A ASSOCIAÇÃO WENCESLAU DE MORAES tem por objectivo constituir um ponto de encontro e de comunicação, para a preservação e divulgação da obra de Wenceslau de Moraes, da sua pessoa e das suas ideias de intercâmbio entre culturas, com enfoque particular nas relações entre os portugueses e os povos do Oriente e do Extremo Oriente que Moraes conheceu, com os quais demoradamente conviveu e cuja cultura profundamente conheceu e divulgou. A ASSOCIAÇÃO WENCESLAU DE MORAES dedicar-se-á à pesquisa, recolha e tratamento da obra de Moraes e da sua correspondência, e bem como das memórias dos sítios, das pessoas, e das culturas relacionadas com a sua vida e obra.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

24 de Fevereiro de 1912

"...
A natureza prossegue, indiferente, na sua marcha eterna. Que importa tudo isto, e muito mais, às arvores, às flores, à criação inteira?... Com uma regularidade imperturbável, sucedem-se às cenas outras cenas, como aconteceu o ano passado, e há dez anos, e há cem anos, e há mil anos...
  Fui hoje ver as primeiras flores de ameixieira que, no sítio onde me encontro, desabrocharam este ano. Algumas florinhas apenas, vinte ou trinta, alvejam nos ramos; dentro em pouco, serão contadas por milhares. O espectáculo era num jardim público. Numa barraquinha garrida, ajoelhados sobre esteiras, dois homens petiscavam e bebiam; duas geishas, suas companheiras, dedilhavam no shamisen e entoavam melodias em louvor da primavera. A festa pagã comoveu-me, quase até ao ponto de chorar; chamando-me à consciência da minha própria insignificância, da insignificância da inteira humanidade, perante a imensa serenidade das leis que regem os destinos do universo..."
in Cartas do Japão, volume III, 2ª série, 1911-1913

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