"...
A natureza prossegue, indiferente, na sua marcha eterna. Que importa tudo isto, e muito mais, às arvores, às flores, à criação inteira?... Com uma regularidade imperturbável, sucedem-se às cenas outras cenas, como aconteceu o ano passado, e há dez anos, e há cem anos, e há mil anos...
Fui hoje ver as primeiras flores de ameixieira que, no sítio onde me encontro, desabrocharam este ano. Algumas florinhas apenas, vinte ou trinta, alvejam nos ramos; dentro em pouco, serão contadas por milhares. O espectáculo era num jardim público. Numa barraquinha garrida, ajoelhados sobre esteiras, dois homens petiscavam e bebiam; duas geishas, suas companheiras, dedilhavam no shamisen e entoavam melodias em louvor da primavera. A festa pagã comoveu-me, quase até ao ponto de chorar; chamando-me à consciência da minha própria insignificância, da insignificância da inteira humanidade, perante a imensa serenidade das leis que regem os destinos do universo..."
in Cartas do Japão, volume III, 2ª série, 1911-1913
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
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